A imprensa vem destacando as inegáveis inovações da Ucrânia no campo de batalha, mas é fundamental analisar criticamente essa narrativa, considerando que não se pode ignorar um elemento crucial: a Rússia também está inovando.
Combates ferozes em Kursk e Donbass, ataques aéreos maciços na Rússia e na Ucrânia: os combates na guerra ucraniana aumentaram de intensidade novamente recentemente. O coronel Markus Reisner explica o porquê.
Na véspera da posse de Donald Trump como presidente dos EUA na segunda-feira, a intensidade dos combates na Ucrânia aumentou. Ataques aéreos maciços, um ataque surpresa na região russa de Kursk e um avanço das tropas do Kremlin em Donbass marcaram o início do ano. Não há certeza de que as negociações entre Kiev e Moscou ocorrerão em um futuro próximo, como Trump anunciou repetidamente. Enquanto isso, outros fatores acontecem nos bastidores.
Pactos militares para a guerra nuclear
Reino Unido e o presidente Zelensky de um lado e a Rússia e o Irã do outro. Todos com armas nucleares como parte desses acordos. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky assinaram um compromisso histórico de parceria de 100 anos em junho para aprofundar os laços de segurança e fortalecer as relações entre seus países. “Hoje é um dia verdadeiramente histórico, nossas relações estão mais fortes do que nunca”, disse Zelensky durante sua cerimônia de assinatura.
Esta é uma prova que dissipa quaisquer dúvidas sobre o fato de que Zelensky tem uma aliança definitiva com o estado usurpador das Ilhas Malvinas e áreas vizinhas do Atlântico Sul. Será que isso teria algo a ver com a agência de contrainteligência MI6 (lembram-se do lendário personagem fictício James Bond) desestabilizando a Europa Oriental pela militarização das frentes da OTAN com a Rússia em um plano desenvolvido por líderes da UE, financiado pelo lobby das armas?
A Rússia e o Irã também assinaram uma nova aliança, que consolida inúmeras tentativas anteriores de cooperação e cria um novo bloco eurasiano pronto para combater a expansão contínua da OTAN no Oriente Médio.
Mais fantasmas invisíveis
CIA, MI6 e Ucrânia: mais de uma década de colaboração. Nos últimos meses, uma investigação do New York Times lançou luz sobre essa colaboração, descrevendo um relacionamento de 10 anos que fortaleceu as capacidades de espionagem de Kiev. A investigação, intitulada The Spy War: How the CIA Secretly Helps Ukraine Fight Putin, escrita por Adam Entous e Mitchell Schwirtz, relata como bases construídas com apoio americano permitiram que a inteligência ucraniana monitorasse as atividades russas e preparasse operações específicas. Uma dessas instalações, localizada em uma floresta ucraniana, abriga um bunker subterrâneo onde soldados locais rastreiam satélites espiões russos e interceptam as comunicações dos comandantes. Essa rede inclui pelo menos 12 locais secretos que operam desde 2014 ao longo da fronteira com a Rússia.
Os laços entre os serviços secretos ucranianos e americanos foram fortalecidos durante os dias do Euromaidan, quando Valentyn Nalyvaichenko, chefe dos Serviços de Segurança Ucranianos, contatou a CIA e o MI6 para reorganizar a agência nacional. Foi então que a Ucrânia, governada por um novo governo pró-Ocidente, começou a colaborar estreitamente com os Estados Unidos. Com o apoio de atores como o financista George Soros e sob o olhar atento de autoridades americanas, a Ucrânia embarcou em uma mudança de direção estratégica.
Nos anos seguintes, Kiev compartilhou informações cruciais com aliados ocidentais, como a queda do voo 17 da Malaysia Airlines em 2014 e os projetos de submarinos nucleares russos. Conforme relata a ABC News, desde 2016, a colaboração entre a CIA e os serviços secretos ucranianos entrou em uma fase mais intensa graças a um programa conhecido como “Operação Goldfish”.
A CIA começou a fornecer tecnologia de comunicação segura, juntamente com cursos de treinamento para oficiais ucranianos, focados em táticas de combate e espionagem (veja em https://abcnews.go.com/International/cia-helped-rebuild-ukraine-intelligence-russia-invasion/story?id=116909361).
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A batalha pela supremacia tecnológica
A guerra na Ucrânia vai além do que acontece dentro de suas fronteiras. Às vezes, também se torna o palco onde potências armamentistas, neste caso a Rússia ou a OTAN, testam armas com potencial para mudar a guerra como a conhecemos. O uso de mísseis hipersônicos pela Rússia é prova disso. “O lado russo demonstrou claramente suas capacidades”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O míssil Oreshnik lançado em 21 de novembro de 2024 contra a cidade ucraniana de Dnipro deve ser entendido como um aviso e uma ameaça. A mensagem é direcionada aos parceiros ocidentais que fornecem armas à Ucrânia para sua defesa.
Competência tecnológica
Nos últimos meses, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia levou muitos analistas a se concentrarem não apenas na guerra de trincheiras e nos lentos, porém constantes, avanços russos, mas também na crescente competição tecnológica, particularmente no uso de drones.
O dinamismo dos desenvolvimentos ucranianos com o apoio da OTAN é inegável, mas há o risco de ignorar um elemento crucial: a Rússia também está inovando e desenvolveu uma capacidade de drones comparável ou superior à da Ucrânia. Um exemplo recente é o surgimento de imagens que mostram o uso do drone Kub-2, guiado por um drone Granat-4.
O desenvolvimento destaca a crescente sofisticação das operações russas, que agora dependem de duplas de drones capazes de operar de maneira coordenada.
Ambos os lados investiram em drones assistidos por IA, e não está claro se a IA russa ou ucraniana chegou primeiro. A Rússia desenvolveu drones de fibra ótica, como os Vandals, para superar a interferência eletromagnética, enquanto a Ucrânia parece estar ficando para trás nesta área tecnológica específica. Isso não quer dizer que a Ucrânia não esteja fazendo um trabalho excepcional com drones, mas sim que uma análise que se concentre exclusivamente nos sucessos ucranianos, ou em transformar uma vantagem localizada em uma vantagem sistêmica, pode levar a uma avaliação distorcida da situação.
Deve-se levar em conta que nenhuma engenhosidade militar por si só pode ser decisiva se não for utilizada no âmbito de um sistema que acompanhe táticas, doutrinas e o fator humano de coragem e liderança. Para isso, o coronel Fernando Durand nos diz para “ter em mente que a guerra eletrônica é eficaz contra drones. Repito até cansar, drones são bons e úteis, desde que sejam usados dentro da estrutura de uma equipe de armas combinadas. Sozinhos, eles NÃO são decisivos, nem mudaram a natureza da guerra”.
Para encerrar. Todos esses aspectos devem ser devidamente analisados e mensurados pela defesa nacional, para os investimentos, desenho e organização das Forças Armadas do presente e do futuro.
Publicado no La Prensa.